segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SOBRE CINTILAÇÕES...


ao poeta Paulo Andress

Poetas fazem aniversário, mas não têm idade. Celebra-se a data em que surgiram, porque celebrar o extraordinário devolve aos dias aparentemente simples, supostamente repetitivos, a memória de sua força de inventar, por descuido esquecida.
Poetas surgem. Um dia surgem e sabe-se, então: a vida não se bastou, a vida quis em si mesma ousar fazer (de novo) o nunca antes feito. Quando a vida fica triste, quando a vida fica exausta do que tem, do que é e quer mais, gesta poetas e garante, neles, seu indispensável excesso, sua necessária exceção.
Poetas surgem. Um dia surgem imersos num mar de palavras desordenadas, inundados pelas águas do tudo saber sem nada saber, perturbados pela visão dos vinte mundos ali, onde o mapa assinala apenas um lugarejo.
Poetas surgem. Um dia surgem. Conhecem nada de si, de sua destinação, de sua tarefa. Chegam sempre antes de ver, vêem sempre antes de chegar e espalham sentidos nos signos como quem marca a própria trajetória num labirinto que nega ter saídas.
Mas poetas fazem aniversário, embora não tenham idade. E nestas celebrações, a cada celebração disso, que neles foi surgimento, descobrem a profundidade escondida nos seus vôos, porque o céu é tão-somente um abismo invertido.
E nestas celebrações, a cada celebração disso, que neles foi surgimento, adivinham a eternidade escondida nas suas datas, porque o tempo é tão-somente um brinquedo de conjugar verbos.
Por isso poetas não têm idade: poetas não nascem, poetas não morrem. Poetas são cintilações. Surgem. Brilham. Iluminam. E estão fadados, mesmo não querendo, a permanecer para sempre
nos mundos todos que desvelaram, produziram, testemunhando aos incrédulos que – sim! – o infinito existe e mora neles, poetas.
E os poetas, onde moram? Eles moram, com a vida, no absoluto.

Texto em http://www.informarte.net/entrelinhas/57_cintila.htm

A NAMORADA NO PORTÃO




Imagens e momentos que cintilam no tempo.








Ela me esperava no portão
De longe eu via seu sorriso
Que me enchia de alegria

Beijos e abraços
Doces palavras, carinhos
Brilho no olhar

Sair a passear
Mãos dadas, felizes
Sem rumo, sem pressa

Ir ao cinema
Tomar um sorvete
Na pracinha namorar

Amar e ser amado
Sentir em cada momento
A vida do tamanho do mundo. (ney)