segunda-feira, 20 de outubro de 2008

So many things - Sarah Brightman

http://www.youtube.com/watch?v=Gu1fOgXdrbU&feature=related

E tantas coisas eu havia esquecido,
Nesse mundo que nós dividíamos
Com tantas coisas a serem perguntadas
Nunca perguntamos sobre aquela loucura
Estranho como eu me encontro
Tantas vezes numa praia tão distante
Há apenas uma coisa que está confusa
Foi você? Fui eu?
Com tantas perguntas não respondidas
Ou foi parte do seu mistério
Estranho como eu me encontro
Tantas vezes numa praia tão distante
Tantas coisas que eu esqueci
Tantas coisas a serem perguntadas.

POR ONDE ANDOU CRESCENDO AQUELA DANADINHA...

POR ONDE ANDOU CRESCENDO AQUELA DANADINHA . . .

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós, como pássaros tagarelas em árvores estagnadas.
Crescem sem pedir à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias e de igual maneira. Crescem de repente!
Um dia, sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade, que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu?
Que é que acontece à pázinha de brincar na areia, às festinhas de aniversário com palhaços e ao primeiro uniforme do colégio.
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil . . . E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça!
Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos, soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme da sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros.
Ali estamos nós, com os cabelos esbranquiçados. Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente, com os erros que esperamos que não repitam.
Sim . . . há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás do carro e passaram para o volante de suas próprias vidas!
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas e discos ensurdecedores.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao shopping; não lhes demos suficientes hambúrgueres e Coca-Colas; não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado. Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio, subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chiclete e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas “pestes”.
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito. Nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade. E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: a qualquer momento podem dar-nos netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estafado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão descomedidos a distribuírem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto!
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais antes que eles cresçam.
Aprendemos a ser filhos depois que fomos pais . . .
Só aprendemos a ser pais depois que somos avós . . .

Affonso Romano de Sant’Anna