
Deitado no piso de granito da pequena varanda do apartamento, pegando um sol da manhã nesses dias frios, fiquei olhando os galhos e folhas do pequeno FICUS plantado no vaso, as folhas amarelas caídas num pedacinho de terra. Do chão parecia uma pequena árvore, cliquei com a câmera digital em "close up". Aquela imagem me fez viajar aos tempos de criança, o quintal da casa, idade que observamos e sentimos tudo a nossa volta. E as calopsitas adoram me ver ali no mesmo nível (rs).
... Então lembrei de alguns trechos do livro de Manoel de Barros: MEMÓRIAS INVENTADAS - A INFÂNCIA. "Meu quintal é maior do que o mundo." O poeta, que agora vira prosador, consegue se aquilatar cada vez mais na habilidade de "apanhar desperdícios e caçar achadouros de infância", num exercício pleno de seu voyeurismo de quintal. Os olhos do poeta se voltam para o passado sem nenhuma ponta de nostalgia. Pelo contrário: a viagem é alegre e filosófica até; uma sabedoria brejeira e cativante que faz do diminuto algo universal: "Prezo mais insetos do que avião, e tartarugas mais do que os mísseis."
Em vez de sonhar com o que não possui, o menino que brincava de brinquedos não-fabricados, mas sim de boizinhos de osso, bolas de meia e automóveis de lata, brinca também de observar lesmas naquele mesmo quintal revisitado. O poeta transfigura o mais reles cotidiano ao definir a subida do bichinho na parede como uma troca voraz com a pedra, um "delírio erótico".
Este mundo habitato por criaturas rastejantes é também o celeiro escolhido pelo poeta como fonte de suas maiores inspirações: "Eu não via nenhum espetáculo mais edificante do que pertencer do chão. Para mim esses pequenos seres tinham o privilégio de ouvir as fontes da Terra."