sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO





Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. (Carlos Drummond de Andrade),
http://www.youtube.com/watch?v=Xox8ysHXGkM

CASA Nº 34



















Clique na imagem para ampliá-la (foto ney)

Passa o tempo
Ela resiste à ausência
Ao distanciamento
De quem foi abrigo
Teto e moradia.

Abandonada
Sobrevive às intempéries
Ruína de histórias e sonhos
Ícone de memórias
Dá vida e beleza à fotografia. (ney)