sexta-feira, 29 de maio de 2009

POETA NA MADRUGADA



Clique sobre a imagem para ampliá-la (foto ney). Lua vista da minha janela.
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Vale a pena ler de novo... Eu acho.

Solilóquio do Poeta na Madrugada
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Não tenho nada importante para dizer nesta madrugada. Geralmente, nas madrugadas é que os sonhos, como os corpos dos mortos vem à tona flutuar. Não tenho nada importante pare dizer nesta madrugada. Sobre a superfície de minha alma, brunida como a face de um lago, voga apenas a felicidade - cisne branco, solitário e pensativo. Desculpem-me: mas importante para o poeta, é esse vinho de palavras - seu vício - com que sente necessidade de embriagar o coração. Não tenho nada importante para dizer. Entretanto eis-me aqui, barco a deriva dando à praia deserta sem amarras sequer para atirar. Seresteiro boêmio - minha máquina de escrever é meu instrumento, música e canto em que me transmudo, muro de lamentações de minhas mágoas, guizo de minhas fantasias. Não tenho nada importante para dizer, mas algo em mim me trouxe até ela - esse impulso que leva o crente ao templo para conversar com Deus, num momento de desamparo ou de gratidão. Bem sei que não é importante que eu me sinta assim, leve e pleno dentro da noite, sem maiores razões para me sentir feliz - feliz porque as coisas dormem, e a paz ao redor é acariciante. E há ainda o meu rádio - companheiro e personagem de tantas vigílias, onde um piano, agora, esta declamando poesia, e a noite - sonho múltiplo e silencioso da vida, a pairar em tudo... Você já experimentou essa sensação de se encontrar consigo mesmo sem testemunhas, como quem esta deitado sobre relvas a olhar o céu distante? - apenas alguns momentos inconseqüentes, passando, que viraram lembranças, e esvoaçam como gazes? E aquela certeza de que ninguém sofre por você, de que nada deve, de que pode gastar perdulariamente o coração, como um jogador, que todos os que ama, ou os que o podem amar, dormem tranqüilos e amanhã será um novo dia, e cada encontro um bom-dia! para todos! Não tenho nada importante para dizer. Só essa vontade de encontrar o coração sem interlocutores, de falar para ninguém, e sem resposta - o espírito como um monge em êxtase a saborear a noite, como uma bebida quente docemente -o pensamento como um budista sentado sobre os joelhos à espera do Nirvana. Meu amor foi dormir. Era isso talvez o que eu queria dizer e não sabia, e isto talvez explique esta vaga euforia em que me sinto flutuar na madrugada. Meu amor foi dormir embalada naquele doce cansaço que lhe teci como uma rede, e eu só, ainda resisto, mais forte, pelo prazer de prolongar os acordes de uma felicidade que canta sozinha, como um bêbedo na madrugada. Coisa boa a gente se sentir assim, o coração embriagado sem ter bebido, em paz com a vida, grato ao momento que passa, (nuvem alta, distante), sem filosofias. Feliz, só isto. Sem precisar sequer entender. Não tenho nada importante para dizer esta madrugada.
Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"Vol. IV - 1a edição 1965 )

BALADA DA CHUVA


Clique sobre a imagem para ampliá-la (foto ney)
Chegou a chuva fina, molhando a terra, renovando a vida, anunciando o inverno que se aproxima. Gostoso de se ficar em casa, ver um bom filme, um jantar à luz de velas. Da minha janela vejo as sombrinhas coloridas, as poças d'água, o córrego levando as águas da chuva para o mar, a vegetação revigorada. Todas as estações têm seus encantos, a natureza sabe ser bela de todas as formas.
"Balada da Chuva"
A tarde se embaça: - um pingo, outro pingo, respinga um respingo de encontro à vidraça; um pingo, outro pingo, e a chuva aumentando e eu nada distingo,- respinga um respingo tinindo, cantando de encontro à vidraça. A noite esta baça e a chuva enervante batendo, batendo, constante, cantante de encontro à vidraça. A terra se alaga o, céu se nevoa, e a chuva é uma vaga fininha, descendo, parece garoa! ... parece fumaça!- e as águas subindo, e as poças subindo e a chuva descendo e a chuva não passa! O dia surgindo, manhã turva e baça. A chuva fininha miudinha, miudinha, parece farinha lá fora caindo, através da vidraça. A tarde está escura, a noite está baça, e as brumas de um tédio, de um tédio sem cura, talvez sem remédio, minha alma esfumaça:- um dia, outro dia e os dias passando em lenta agonia, segunda a domingo; um pingo, outro pingo, respinga um respingo, batendo, cantando, mil dedos tocando de encontro à vidraça...-que chuva! que chuva! e a chuva não passa! Constante, cantante caindo distante nas folhas molhadas, nas poças paradas despidas e nuas, e murmurejante rolando nas ruas;-um pingo, outro pingo na lata cantando goteira se abrindo pingando, pingando, batendo, batendo, tinindo, tinindo parece um tinido, de taça com taça, e a chuva chovendo e a chuva não passa! O vento nas folhas de leve perpassa, e as gotas nos fios rolando, escorrendo, lá fora estou vendo através da vidraça,- que dias sem alma!- que noites sem graça! e a chuva, que calma!chovendo, chovendo não passa! não passa! A terra está envolta nas brumas de um véu, de um véu de viúva que o dia escurece, e a noite enfumaça.- E' a chuva que chove, e do alto se solta descendo, descendo, rolando, escorrendo nos olhos do céu...Nos olhos do céu e no olhar da vidraça!-que chuva! que chuva! parece um dilúvio, quem sabe? - parece que a chuva não passa!( Poema de J. G. de Araujo

AVISO

Meu computador está consertando, logo volto a minhas postagens. ney/
Em tempo: Enquanto meu computador não fica pronto, vou fazendo minhas postagens aqui no Lap Top da neta.ney/