quinta-feira, 7 de maio de 2009

OBSCURA CLARIDADE



Clique na imagem para ampliá-la (foto ney)

Ontem, ao clicar as belas imagens de uma tarde azul de outono (maio), postagem anterior, a câmera na direção da luz do sol acabou por criar essa OBSCURA CLARIDADE. Havia uma intensa luz refletida na espuma branca das ondas, então o automático fechou a entrada tornando possível captá-la de uma outra forma que não perdesse o brilho. Por coincidência, levou-me a refletir sobre um texto que acabara de ler.

Obscura claridade é também um oximoro (oxímoro), uma figura de linguagem que harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão, formando assim um terceiro conceito que dependerá da interpretação do leitor.
Dado que o sentido literal de um oximoro (por exemplo, um instante eterno) é absurdo, força-se ao leitor a procurar um sentido metafórico (neste caso: um instante que, pela intensidade do vivido durante o mesmo, faz perder o sentido do tempo). O recurso a esta figura retórica é muito frequente na poesia mística e na poesia amorosa, por considerar-se que a experiência de Deus ou do amor transcende todas as antinomias mundanas (Wikipédia).

Luciana Brandão Carreira Del Nero em seu trabalho entregue a AUPPF (http://74.125.47.132/search?q=cache:hjbPBpfBns8J:www.fundamentalpsychopathology.org/8_cong_anais/TR_455.pdf+Obscura+claridade&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br diz o seguinte, resumindo:

Alguns textos literários situam-se no litoral do saber: nestes, o sentido fica subentendido, oculto no recôndito da narrativa, apenas depreensível... A superfície porosa de um papel em branco ganha letras e um pequeno milagre acontece: o silêncio da branca página é interrompido, perfurado pelo gotejar da tinta que pinta, desenha e deseja um texto. O que antes era mudo, muda, ganhando voz e forma. Algumas dessas vozes são, no entanto, sopradas da beirada do abismo: emitem murmúrios, esquivam-se do sentido, têm a consistência de um suspiro. Suas formas são imprecisas, dão-se a ver apenas ao serem tocadas".

Clarice Lispector também manteve uma relação com a palavra que não a reduzia ao seu significado, fincando “a palavra no vazio descampado: é uma palavra como fino bloco monolítico que projeta sombra”; referia-se a sua escrita como uma “(...) convulsão de linguagem. Transmito-te não uma história, mas apenas palavras que vivem do som (...) Não sei sobre o que estou escrevendo: sou obscura para mim mesma” (LISPECTOR, C., 1998).

Talvez um pouco deste contexto esteja neste poema de NERUDA:

Gosto quando te calas, porque ficas como ausente, e me ouves desde longe, e minha voz não te alcança. Parece que teus olhos tivessem voado e parece que um beijo, te cerrasse a boca... como todas as coisas estão cheias de minha alma...emerges tu das coisas, cheia que minha alma própria alma. Borboleta de sonhos, és como minha alma e pareces com a palavra melancolia. Gosto quando calas porque ficas como ausente, estás como se lamentando, borboleta que sussuras me olhas de longe e minha voz não te alcança. Deixa que me cale com teu silêncio, iluminado como uma aliança, simples como uma aliança. Ès como a noite quieta e estrelada, teu silêncio é como uma estrela, tão distante e singela. Gosto quando calas porque ficas como ausente, distante e dolorida como se tivesse morrido. Uma palavra então, um sorriso basta, e já fico feliz, feliz com aquilo que não é certo. Pablo Neruda

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