sábado, 3 de julho de 2010
Pequenas imagens que nos fazem viajar no tempo...
Deitado no piso de granito da pequena varanda do apartamento, pegando um sol da manhã nesses dias frios, fiquei olhando os galhos e folhas do pequeno FICUS plantado no vaso, as folhas amarelas caídas num pedacinho de terra. Do chão parecia uma pequena árvore, cliquei com a câmera digital em "close up". Aquela imagem me fez viajar aos tempos de criança, o quintal da casa, idade que observamos e sentimos tudo a nossa volta. E as calopsitas adoram me ver ali no mesmo nível (rs).
... Então lembrei de alguns trechos do livro de Manoel de Barros: MEMÓRIAS INVENTADAS - A INFÂNCIA. "Meu quintal é maior do que o mundo." O poeta, que agora vira prosador, consegue se aquilatar cada vez mais na habilidade de "apanhar desperdícios e caçar achadouros de infância", num exercício pleno de seu voyeurismo de quintal. Os olhos do poeta se voltam para o passado sem nenhuma ponta de nostalgia. Pelo contrário: a viagem é alegre e filosófica até; uma sabedoria brejeira e cativante que faz do diminuto algo universal: "Prezo mais insetos do que avião, e tartarugas mais do que os mísseis."
Em vez de sonhar com o que não possui, o menino que brincava de brinquedos não-fabricados, mas sim de boizinhos de osso, bolas de meia e automóveis de lata, brinca também de observar lesmas naquele mesmo quintal revisitado. O poeta transfigura o mais reles cotidiano ao definir a subida do bichinho na parede como uma troca voraz com a pedra, um "delírio erótico".
Este mundo habitato por criaturas rastejantes é também o celeiro escolhido pelo poeta como fonte de suas maiores inspirações: "Eu não via nenhum espetáculo mais edificante do que pertencer do chão. Para mim esses pequenos seres tinham o privilégio de ouvir as fontes da Terra."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário